A aluna Josiele Iarrocheski do 8° ano do Núcleo Escolar Municipal João Pedro Alberti-Rio d’Areia de Cima-Bela Vista do Toldo/SC, conquistou o 1° lugar na categoria Conto- 7°,8° e 9° ano do Ensino Fundamental Com o Conto de título “Inspiração Contestada”
Tudo começou segundo a aluna Josiele Iarrocheski com o incentivo de sua professora de português Edilaine Fernandes Corrêa “durante uma conversa nas aulas de português, ela nos trouxe a proposta para participar desse concurso, então resolvi participar, durante todo o processo de composição do conto a professora estava ajudando e auxiliando, quando recebi a mensagem dizendo que eu havia ganhado em 1° lugar foi um susto, uma emoção enorme. Agradeço imensamente a professora por sempre estar nos apoiando e a todos os acadêmicos da Academia de Letras do Brasil-Canoinhas, especialmente a Dra Adair Dittrich, por todo o carinho para com todos os premiados”
INSPIRAÇÃO CONTESTADA
“Morar aqui me inspira a nunca desistir”, assim dizia minha humilde bisavó Belarmina, que contava para minha mãe, sobre o que presenciou em nossas terras contestadas, por volta do ano de 1914,era pequena, quando tudo aconteceu, mas as imagens nunca saíram de sua mente..
Seu pai morador do interior canoinhense, hoje município de Bela Vista do Toldo, era homem rústico, descendente de alemães judeus, casado com uma mulher forte, oriunda do meio do nosso sertão planaltino, uma cabocla nata, dessas mulheres fortes e guerreiras, encontradas em nossa história. Eram em oito irmãos, ela, uma das caçulas, não entendia direito o que estava acontecendo na região, a única palavra assustadora que conseguia ouvir, era “jagunços”…
Ouvia-se murmúrios também, de um tal homem, considerado meio benzedeiro, meio santo-uma mistura de mítico, místico e religioso- um tal João Maria, Belarmina, na sua inocência, ouvia conversas que para ela não eram ameaças, tão pouco seriam assustadoras, mas para seus pais, o que estava por vir,era assustador!
Era uma manhã fria de inverno, ao acordar, Belarmina senta-se ao redor do fogão à lenha, junto de seus irmãos, para tomarem o café da manhã, a geada tratava de esbranquiçar a paisagem do lado de fora, da casa de madeira, estilo colonial, a chaleira de água quente, chiava, para a mãe passar o café, e para o pai Frans como era chamado-abreviação de Francisco encher seu costumeiro chimarrão. Enquanto a mãe não vinha com o leite, lá da estrebaria, todos ficavam a espera, a irmã mais velha adiantava, cortando as fatias de pão, passadas com a banha derretida do porco… Tudo rotineiro, até que sons de batidas de palmas vinham do portão, era um mensageiro da fazenda vizinha, do compadre da família, senhor Mendes, que mandou uma carta à ser entregue com urgência…
Estão Belarmina tão pequena, mas com o olhar observador, atenta a cada movimento de seu pai, percebe, o desespero, a ansiedade, contidos nos movimentos dele…
A mãe chega da estrebaria com o leite fresco para o café, é surpreendida com a agitação de Frans,onde pede com autoridade e pressa, que arrumassem os pertences principais da família, enquanto ele reunisse um tanto do gado e das carroças, pois teriam que sair da propriedade por um tempo, e se refugiarem na fazenda do compadre, num município próximo dali.
Foi uma manhã agitada, todos querendo respostas, do porquê daquela mudança, o que viria de tão ruim, que teriam que se esconder em outro lugar, Belarmina, ouvia a mãe ofegante, olhando para seu pai, e dizendo, mas se ficássemos e lutássemos, e a resposta era, não podemos, são muitos, querem a cabeça dos moradores, nossa família não resistiria a um ataque, e tem mais, vamos ter de enterrar alguns pertences em panelas, pois o caminho é perigoso, e quando voltarmos será nossa garantia, então, aquela menina presenciou a lendária cena, da dita “panela de ouro”!
Seguiram viagem, todos da família, mas Belarmina, segue olhando sua casa até o despontar da estrada, e com o barulho das carroças acaba adormecendo, quando acorda, já tem a imagem de um portão enorme, onde foi aberto por um dos peões que pelo local habitava. Então ela curiosa e ao mesmo tempo confusa, pergunta à sua mãe, onde eles estavam chegando, então ouve que acabaram de chegar na fazenda do senhor Mendes-compadre de seus pais-…
Passaram-se alguns meses, a vida da família na estância vizinha era difícil, a comida escassa e a saudade da casa ecoava naqueles campos, até que, chega a notícia de que os tais “jagunços” já haviam passado, e que poderiam retornar sem perigo para a casa, mas mal sabiam, o que veriam adiante…
No caminho de volta, aquela caboclinha, não fechou os olhos para cada detalhe, detalhes esses, que a fez testemunhar das cicatrizes de nosso chão, que mais tarde, quando adulta, pode entender…
Em seus olhos percorreram todo o holocausto de nossa história, crianças assustadas perdidas embranhadas no sertão, casebres desmontados em cinzas, onde viviam alegrias em rodas de prosa e chimarrão, taperas abandonadas, saqueadas, sonhos destruídos, noivas sem seus noivos, vestígios trágicos de massacres, e quando se depara em frente à sua casa, desce da carroça e dispara em corrida até o quintal e vê o abandono, o silêncio, pois tudo ali foi explorado, destruído, servido de trincheira e esconderijo…
A família aos poucos se recompõe, assombrada, e aos poucos, vai reconstruindo, remapeando seus costumes, suas tradições, sendo fiéis aquela terra, traduzindo inspirações para continuarem, o que muitos, não puderam,porque foram-lhes roubados o direito de existirem, de serem caboclos, de serem livres, de serem pessoas que defendiam seus verdes, seus solos, seus DNAs…
E hoje posso dizer, terminando este conto, que o que me inspira, são as Belarminas, os Frans,os nativos e os reconstrutores da nossa história, pois o amor à nossa terra, é parte da dívida étnica de nossas gerações!